#067
* eu tinha dado o primeiro mergulho no mundo dos sonhos, mas por algum motivo durou pouco e voltei para vigilia. chovia de forma bem discreta e logo comecei a pensar e pensar. minha mente começou a imaginar e refletir sobre os palimpsestos e de como os mesmos são belas metáforas para diversas ocasiões... hoje pela manhã eu já tinha um outro modo de encara-los, totalmente distinta das vias que peguei horas antes. sinto que toda pessoa carrega esses pergaminhos, eles não estão visíveis como objetos, mas existem. nossas histórias estão constantemente sendo ali escritas, momentos do agora, do passado, do futuro e de outras vidas. existe diversos motivos para escrever e apagar, deixo para você refletir. mas existe algo que descobri, as vezes algumas escritas se encontram com outras de momentos anteriores e se um especialista conseguisse materializar esse palimpsesto para interpreta-lo, perceberia que mesmo que anotadas em tempos distintos algumas narrativas são apenas uma continuação, se apresentado em novas ocasiões e contextos. a melhor palavra para se usar é reencontro. dessa forma, o que eu quero explicar é que mesmo que não possamos ver esse pergaminho, se faz possível percebe-lo através de frestas do mundo manifestado. um exemplo se dá quando acontece aquelas situações que você cruza com derteminada pessoa e isso se repete um punhado de vezes de forma ligeiramente estranha, mas de alguma forma você olha para aquela pessoa e sente algo diferente, toda sorte de sentimentos pode se apresentar, comigo sempre são bons e genuínos, talvez para você seja diferente. pois é, as vezes não é só coincidência, bem diferente disso, são as histórias dos palimpsestos se reencontrando. isso acontece muito através das sincronicidades. eu mesmo sou um ser que experimenta sincronicidades quase que cotidianamente, mas para alguns isso se faz mais raro, pois para percebe-las é preciso ter em si uma sintonia fina com algo que não sei nomear, e claro, se faz necessário estar aberto para o mesmo. não vou me alongar mais, mas o que gostaria de deixar registrado aqui é essa pequena dica. constantemente tendemos a pensar que não é possível, só que se cortarmos a cena e observar a vida como um personagem que atua em todos os filmes existentes, ela, a vida, quebrando a quarta parede olha para a câmera e de forma leve e com um sorriso no canto da boca fala suavemente: "é tão possível que está ai, mais perto que você imagina". e some dando uma doce gargalhada. em resumo, o que quero dizer é algo bem simples e se tivesse feito isso no inicio desse escrito pouparia muito tempo ( mas o que é o tempo? ) - voltando, o que eu queria dizer vai especialmente para você, sim você! observe com olhos infinitos, só isso.
*olhos infinitos
*existe uma sensação que se revela em poucos momentos, como se um periodo do passado recente se manifestasse no presente, é diferente das lembranças que surgem de tempos longínquos, comigo é mais frequente sentir algo de 3 meses atrás. esse pequeno distanciamento já é o bastante para você perceber a atmosfera que se vivia, mas que não se percebia enquanto estava vivendo.
*só papo de maluco hoje (Y)
*(...)"dos que de perto literariamente me cercam, você sabe muito bem que (por superiores que sejam como artistas) como almas, propriamente, não contam, não tendo nenhum deles a consciência (que em mim é quotidiana) da terrível importância, da vida, essa consciência que nos impossibilita de fazer arte meramente pela arte, e sem a consciência de um dever a cumprir para com nós mesmos e para com a humanidade. de modo que, à minha sensibilidade cada vez mais profunda, ea minha consciência cada vez maior da terrível e religiosa missão que todo homem de gênio recebe de deus com o seu gênio, tudo quanto é futilidade literária, mera arte, vai gradualmente soando cada vez mais oco e a repugnate. pouco a pouco, mas seguramente, no divino cumprimento intimo de uma evolução cujos fins me são ocultos, tenho vindo erguendo meus propósitos e as minha ambições cada vez mais à altura daquelas qualidades que recebi. ter uma ação sobre a humanidade, contribuir com todo poder do meu esforço para a civilização vêm-se-me tornando os graves e pesados fins da minha vida. outra atitude não pode ter para com a sua própria noção-do-dever quem olha religiosamente para o espetáculo triste e misterioso do mundo. agora, tendo visto tudo e sentido tudo, tenho o dever de me fechar em casa no meu espirito e trabalhar, quanto possa em tudo quanto possa, para o progresso da civilização e o alargamento da consciência da humanidade. chamo insiceras às coisas feitas para fazer pasmar, e às coisas, também - repare nisto, que é importante - que não contêm uma fundamental ideia metafisica, isto é, por onde não passa, ainda que como um vento, uma noção de gravidade e do mistério da vida". |PESSOA, Fernando. Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes Rodrigues. Lisboa: Livros Horizonte, 1985.|